Um filme que é um apelo
Um filme que é um apelo
Bela (Lúcia Moniz) e Jota (Ruben Garcia) são os emigrantes portugueses no centro do drama, construído a partir devárias histórias reais
Multipremiada em Veneza, “Listen” foca-se numa família de portugueses em risco deperder a custódia dos filhos. Longa-metragem de estreia de Ana Rocha de Sousachega quinta-feira às salas e “Listen” se pode dizer que é um filme cru, despojado, direto, semaconchego, sobre um caso social que vai abater-se sobre uma família deimigrantes portugueses que rumou a Inglaterra à procura de melhor vida e aquem a vida, pela crise económica, pregou uma valente rasteira. Bela (Lúcia Moniz) eJota (Ruben Garcia) estão em dificuldades naquela periferia da northeast London que poderia ser a de qualquer outra capital da Europa. Percebe-se que eles deixaramalguma estabilidade e família no país de origem antes de partirem, não vamos sabergrande coisa do passado deles, mas o que se sabe basta para nos darmos conta de quesó há bem pouco tempo deixaram de poder garantir os pilares básicos desobrevivência: pagar renda e contas, manter casa habitável, ter um prato decente namesa. Ou melhor, cinco pratos, porque o casal tem três filhos, um rapaz em fase depré-adolescência, uma menina surda de sete anos que obrigou os pais afamiliarizarem-se com a linguagem gestual, o mais novo é um bebé de colo.
★★★
LISTEN
De Ana Rocha de Sousa
Com Lúcia Moniz, Ruben Garcia, Maisie Sly, Kiran Sonia Sawar, James Felner (Portugal/Reino Unido)
Drama / Classificação a definir
Estreia-se quinta-feira nos cinemas
O dilema deste ‘filme de combate’ vem precisamente daqui, dos três menores de umafamília que, quando “Listen” começa (chega na quinta-feira às salas), já foi sinalizadapela Segurança Social britânica. O processo de retirada imediata dos filhos, aprende-se logo a seguir, já está em curso, Bela e Jota não sabem mas adivinham o que osespera, desunham-se a arrumar a casa perante vistoria iminente, pedem ajuda eaquele dinheiro que uma empresa ainda deve ao pai, a mãe arrecada mais uns trocoscomo empregada doméstica embora seja óbvio que tem habilitações superiores, mascom três filhos, um deles bebé, quase tudo corre mal, chega sempre ao trabalhoatrasada — e os ingleses com as horas não perdoam.
Ana Rocha de Sousa põe então em marcha uma ficção com “75 minutos cirúrgicos”(palavras do diretor do Festival de Veneza, que a selecionou), um filme acontrarrelógio, com um ritmo frenético, sem um segundo a perder, pois é esse oestado que atravessam os protagonistas. “Listen”, recorde-se, deixaria o Lido emsetembro passado com a comoção da realizadora, de 41 anos, perante o PrémioEspecial do Júri da secção Horizontes, entregue por Claire Denis, e o Leão do Futuro.
Fonte : Expresso
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