Entrevista: Lúcia Moniz

“Podíamos ter melhores textos” (COM VÍDEO)

Aos 35 anos, a actriz, que não descura uma carreira internacional, fala da escassez de trabalho na música e na TV portuguesas.

Por:Eugénia Ribeiro


Está de regresso à RTP 1 com a segunda temporada de ‘Maternidade'. Que nos traz de novo a personagem?
Nesta série ficamos a conhecer mais o lado humano da Madalena. Vamos assistir a alguns momentos da sua privacidade, a sós no gabinete ou com a Rosa (Patrícia Bull).
E foi mais interessante interpretar a vertente intimista da personagem?
Foi, claramente. Tentar explorar o que a pessoa sente no seu íntimo e, ao mesmo tempo, manter a coerência da personagem que vinha da primeira temporada foi um desafio maior.
Afirmou que esta série "não vai ser mais do mesmo". Que quer dizer com isto?
Da maquilhagem aos cabelos, passando pelos adereços à iluminação e som, pós-produção, tudo foi melhorado. Toda a equipa aproveitou o tempo que teve para fazer televisão com a maior qualidade possível. Dar o melhor de nós será a prenda que ofereceremos ao público que reagiu muito bem à primeira temporada. É o público que nos faz continuar e melhorar.
As gravações da série terminaram em 2011, que tem feito até agora?
Coisas pontuais na representação. Fiz uma participação num filme no Algarve e os concertos possíveis.
Que filme foi esse?
Uma co-produção inglesa e holandesa. Foi todo rodado no Algarve e representei o papel de uma treinadora de golfinhos, uma descendente de noruegueses.
Porque foi escolhido o Algarve?
Porque o realizador, que é holandês, cresceu no Algarve, foi estudar para o estrangeiro e tinha o sonho de fazer a sua primeira longa-metragem em Portugal, como acabou por acontecer.
Teve formação para lidar com os golfinhos?
Sim, recebi algum treino com os golfinhos. Foi muito boa esta experiência que me permitiu conhecer outra equipa e aprender com ela. E tive o privilégio de estar ao lado do Miguel Damião que também integrou a ‘Maternidade'.
Não há mais projectos?
Agora não há nada, à excepção de muita vontade de fazer mais e evoluir.
É estimulante fazer ficção em Portugal?
É se olharmos para ‘Maternidade'. Tínhamos um realizador que queria inovar, câmaras capazes de explorar outras formas estéticas de fazer ficção... foi um grande estímulo.
Os textos de ficção são bons?
Acho que se pode fazer ainda muito melhor. Podíamos ter melhores textos. Tenho receio de ser específica, mas ainda temos muito a trabalhar neste âmbito. Um texto bem escrito é saboroso de ser trabalhado e facilita-nos a interpretação.
Às vezes trabalha com alguma frustração?
Sim, isso acontece algumas vezes. Mas não culpo apenas quem escreve, porque, às vezes, é dado um tempo curto aos autores. E não é qualquer um que cria de um momento para o outro. Os actores também perdem qualidade quando têm de fazer 40 cenas por dia. Não quero atirar pedras aos guionistas!
Que recorda do filme ‘O Amor Acontece' ao lado de Colin Firth?
Além de ter sido a minha primeira experiência de cinema foi excelente ter tido tanta gente disponível à minha volta para me ensinar. Foi enriquecedor a todos os níveis.
Pôs de parte a possibilidade da fazer uma carreira internacional?
Não, mas se aqui é difícil, imagine no estrangeiro, eles procuram sempre actores nacionais. Mas estou disponível para agarrar novas oportunidades.
Tem tentado?
Ainda não parei de tentar desde que fiz o filme. Envio imagens de gravações minhas e, de vez em quando, viajo para fazer castings. Vai-se tentando sempre.
Quando foi o seu último casting e como teve conhecimento dele?
Em Los Angeles, no ano passado. Tenho uma agente norte-americana que me vai mantendo informada.
Nestas suas incursões ao estrangeiro vai encontrando portugueses nesta área?
Sim, sempre, e no Canadá encontrei muitos técnicos na área do cinema e da televisão.
Quando se apresenta como portuguesa, que referência têm os estrangeiros?
Futebol, Ronaldo, Figo, Eusébio, a Amália e o fado. No Canadá há um enorme respeito pelos portugueses, pela cultura, música e gastronomia portuguesas.
Em 2009, ganhou o prémio Best Cookbook Design com o livro ‘Taberna 2780'. Que trabalho foi este?
Tratou-se de um livro de receitas de um restaurante em que fui convidada para fazer a parte estética e gráfica do livro. E fi-lo porque estava entre amigos. Acabou por correr bem.
Tem um curso de design?
Comecei o curso, mas um dia destes ainda vou terminá-lo.
Perfil
Filha de dois músicos, Carlos Alberto Moniz e Maria do Amparo, Lúcia Moniz nasceu em Lisboa há 35 anos. Estudou Música e aos 19 anos participou no Festival RTP da Canção. Tem quatro álbuns editados. Estreou-se como actriz na novela ‘A Grande Aposta', na RTP 1, em 1997. Seguiram-se ‘Terra Mãe' (RTP) e ‘Todo o Tempo do Mundo' (TVI). Integrou o elenco de telefilmes e séries como ‘Alves dos Reis ‘(RTP), ‘Aqui não Há Quem Viva' (SIC) e ‘Maternidade' (RTP), em que interpreta Madalena Valente, obstetra e directora da clínica. Participou em vários filmes, destacando-se ‘O Amor Acontece' ao lado de Colin Firth, Emma Thompson e Hugh Grant. Tem uma filha de oito anos do casamento com o músico Donovan Bettencourt, com quem esteve casada.
"NEM NO VERÃO HÁ ESPECTÁCULOS"
"Nada está bem na área musical, desde as vendas de discos aos espectáculos. Nem no Verão há possibilidade de realizar concertos. Só muito poucas bandas estão a realizar espectáculos. Ainda bem para elas. Havendo pouco dinheiro para investir, os empresários apostam apenas nas bandas que estão nos tops, que vendem muitos álbuns. Desejo que ao menos estas aproveitem ao máximo. Hoje em dia não há espaço para todas. Não é fácil continuar, mas não vou parar."  



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