“West Side Story” – Amor sem Barreiras

Musical de Filipe La Féria

"West Side Story" é sem dúvida uma daquelas histórias que vão ficar para toda a vida, e tal como as gerações antes de nós e a nossa, as gerações vindouras irão com toda a certeza venerar este que é um dos maiores musicais do mundo.

West Side Story, de Filipe La Féria

Ele parte do grande clássico shakespeariano "Romeu e Julieta", cujo contexto é transportado para a rivalidade entre duas comunidades dos bairros ocidentais da "Big Apple", os quais acolheram o fluxo de imigrantes que rumaram para os Estados Unidos à procura do "sonho americano".

"West Side Story" revolucionou o musical com a extraordinária partitura do grande compositor Leonard Bernstein e a genial coreografia de Jerôme Robbins, sendo até hoje considerado o maior sucesso da Broadway.

Hoje em Portugal Filipe La Féria, o Homem a quem estamos habituados, que adapta grandes obras, agarrou em “West Side Story”, e apresenta-nos a sua versão, sendo o mais fiel possível a tudo o que o espectáculo contém.

O Jornal Dínamo, quis saber um pouco acerca de alguns dos actores que entram neste grandioso espectáculo, e falou com 4 deles, que nos deram o seu testemunho.

Ricardo SolerRicardo Soler, que desempenha o papel de Tony o apaixonado de Maria explicou o quão gratificante é fazer este papel e como tudo aconteceu. “Este é sem dúvida um papel muito exigente. Quando vim para cá, para os castings, foi para acompanhar uma amiga, e não fazer na realidade as provas, mas acabei por fazê-lo para ela não ficar sozinha aqui dentro do teatro. Acabei por ficar, não logo como protagonista, mas como um dos membros de um dos gangs (o gang Americano que se chama “Jactos”). Duas semanas depois fui promovido a Tony, ao protagonista e a partir daí, e como andava a trabalhar os dois papéis porque estava a substituir o Rui Andrade que é o outro Tony, comecei a preparar a personagem com muito mais cuidado. A parte do canto já tinha trabalhado e aliás é daí que eu venho. Quanto a teatro, esta é a minha primeira experiência e preparar o Tony foi algo bastante demorado onde eu me empenhei a sério. Entre as coisas que fiz foi pedir imensos conselhos aos meus colegas, que já fizeram musicais anteriores com o Filipe La Féria, como o Carlos Quintas e o Alberto Vilar, e todos eles me ajudaram a construir o Tony. Exigiu muita preparação física, porque há muitas lutas, muita correria, e tem que se cantar ao mesmo tempo e coordenar tudo isto. Ao princípio é tudo um pouco complicado e sai tudo também um pouco robotizado, muito mecânico mas depois os movimentos vão entrando naturalmente à medida que vamos cantando e que vamos estando mais à vontade no papel. Hoje sinto que consigo fazer um Tony mais apurado, estando mais calmo, mas nunca relaxado porque tudo tem de sair bem e temos de estar sempre muito atentos.
Em relação ao “West Side Story” o actor contou que conhecia mais as canções do que a história. “Quando tomei mais contacto com a história percebi que por ser simples (um “Romeo & Julieta” dos tempos mais modernos) chega com alguma facilidade às pessoas e toca-as, e de alguma forma quando saem do espectáculo identificam-se com alguma das personagens e isso é muito positivo. Penso que, e sendo um pouco suspeito para falar (risos), que o espectáculo tem muita qualidade e estamos todos muito orgulhosos de poder fazer este musical, que é o musical dos musicais e que inclusive mais Óscares ganhou no seu tempo. Foram 10 os que ganhou. Estar a fazer o musical e o protagonista é uma responsabilidade acrescida e um grande desafio e tento não defraudar as pessoas e manter um nível elevado na minha representação.
Foram 2 meses muito intensos de ensaios, e penso que uma das coisas que me aguentou e me deu força foi a interacção com todos os intervenientes, e a força que demos e damos uns aos outros. É preciso sentir essa segurança emocional, e isso aqui é fantástico. Trabalhar também com pessoas que sempre admirei, como a Lúcia Moniz e o Pedro Bargado por exemplo é simplesmente maravilhoso e tenho aprendido imenso com eles”.

Cátia TavaresEm seguida falámos com Cátia Tavares, que representa o papel de Maria.
A actriz explicou que, “West Side Story” foi o primeiro musical que viu, e sempre fez parte do meu crescimento. “Tenho que dizer que era impensável fazer o musical, e impensável fazer de Maria, mas sempre foi uma história de “Romeu & Julieta” que me encantou e que penso encanta qualquer um. A banda sonora sem dúvida que ficou marcada em mim, até porque sempre ouvi bandas sonoras e principalmente o meu pai adora musicais e tem muitos em casa e eu cresci a ouvi-las. Fazer a Maria é um sonho tornado realidade. A personagem vai muito ao encontro daquilo que eu sou, e é um desafio enorme fazer uma personagem que ao longo de duas horas e meia (que é o tempo que dura o musical), é obrigada a crescer de criança para adulta. Exigiram muito de mim, mas soube-me muito bem.
Cátia explicou-nos como trabalhou a personagem. “Para me preparar vi muitos vídeos, e o Filipe La Féria foi-me mostrando partes do filme e cenas específicas que ele queria que eu fizesse. Certos movimentos, a graciosidade e a leveza.
Fui a Londres ver o musical, onde a personagem é feita pela minha querida amiga Sofia Escobar, e perguntei-lhe muitas coisas, porque eles também fizeram uma investigação exaustiva, e ela falou-me de coisas que fez e a ajudaram para compor a personagem. Outra coisa importante foi a forma como fomos crescendo nos ensaios. Todos os dias, encontrávamos algo novo, um gesto novo, um olhar novo, que ainda hoje acontece. Não existe improvisação, porque é uma história estanque, mas por exemplo com o Ricardo Soler há uma grande empatia, porque já nos conhecemos há muito tempo e sabemos o que podemos esperar um do outro, e muitas vezes, há gestos que mudam em todas as representações, para que possamos ter sempre um entusiasmo a representar e isso sabe muito bem. Olharmos ao mesmo tempo sem combinar, é uma das coisas que acaba por acontecer e isso é óptimo. No dueto do “Somewhere” em que é suposto chorarmos, há dias que acabamos por chorar mesmo, porque nos emocionamos com um olhar ou um gesto que foi diferente.
Desde os 9 anos que faço musicais, fiz o ”O Rei Leão”, fiz “O Aladino”, fiz também o “Feiticeiro de Oz”, “O Violino no Telhado” entre outros. Realmente os musicais estiveram sempre presentes na minha vida e são a minha grande paixão”.

Pedro Bargado

Não poderíamos claro deixar de falar com mais dois actores que representam, duas personagens importantíssimas no musical: Anita e Bernardo.

Pedro Bargado, é o actor que dá vida a Bernardo, irmão de Maria e membro do gang dos “Tubarões”.
O Actor disse-nos o quão feliz está com esta personagem. “Já conhecia o musical e já tinha visto o filme aí umas 4 vezes. Só que uma coisa é ver e outra é fazer parte dele, o que é diferente. Mais difícil ainda é estar na pele de uma das personagens. A personagem do Bernardo puxa muito pelo físico. É completamente distinta da outra que fiz de Judas, e porque é um latino controlador que depois tem rasgos de loucura com a irmã… há que lhe dar a postura perfeita para o seu carácter. Acima de tudo é um musical que me está a dar muito prazer fazer e o Filipe La Féria tem sem dúvida a varinha de condão, de onde toca tudo se transforma e esta está a ser mais uma peça de sucesso.
As minhas pequenas aparições têm de ser muito fortes, porque a personagem assim o exige. Ele tenta ser a consciência da irmã, e isso ao princípio foi bastante trabalhoso. Agora é mais fácil, porque já entrei na pele da personagem, e tive que sair da pele de outra, e divorciar-me do Judas (risos) e o divórcio foi um bocadinho difícil, porque me marcou muito. Tive que me preparar para não cair nos mesmos gestos, na mesma moldura. O que tem acontecido é que tenho realizado uma continuidade, com esta personagem, e feito um aperfeiçoamento. Agora estou contente e muito satisfeito com a minha progressão e prestação e espero continuar a evoluir, e sem dúvida posso dizer que agora já consigo saborear a personagem e este musical fabuloso”.

A finalizar, falámos com Lúcia Moniz que dá corpo a Anita, uma das personagens, mais carismáticas deste musical.
A actriz considera que esta personagem foi uma prenda que Filipe La Féria lhe ofereceu. “Misturar a música com a representação foi uma coisa nova também neste teatro, porque já tinha feito a Maria Von Trap, mas a Anita, tenho que dizer e voltar a repetir, foi uma prenda que o Filipe La Féria me ofereceu.
Lúcia MonizUma personagem com tanta versatilidade, não de feitio mas de demonstração de humor, de força de viver, auto estima, mágoa, fez-me fazer uma ginástica muito grande. Este é mesmo um grande desafio delicioso de ser atingido.
Quanto à personagem em si, Lúcia Moniz, vê-a como uma Mulher muito impulsiva, com os sentimentos muito à flor da pele. “Seja na alegria, na euforia, na tristeza ou na revolta esta é uma personagem muito forte e daí criar uma vingança precipitada precisamente por isso. Claro que a impulsividade nem sempre corre bem, já em outras situações acaba por ser bom. Acima de tudo a Anita é um ser humano, e nesta peça acaba por ser um exemplo do que é que o ser é capaz de sentir em tão pouco tempo.

Quanto à preparação da personagem, a actriz diz que não foi nada fácil. “Para além de ter que compor a personagem, ter que dançar foi realmente muito complicado e outro dos grandes desafios. Posso agora dizer que à representação e ao canto se juntou mais uma coisa, que é a dança.
Como é uma personagem muito forte, só há pouco tempo me senti à vontade na sua pele. Posso dizer que o facto de ser perfeccionista, faz com que queira sempre aperfeiçoar mais e mais a Anita, mas posso dizer que agora já consigo sentir um chão mais sólido e começar a gozar mais a personagem. Outra coisa que de alguma forma dificultou, foi o facto de ser uma personagem que em muita coisa não tem nada a ver comigo, e então tive que me contrariar, mas também me ajudou em algumas coisas, acho que aprendi com a Anita (risos), aprendi a dançar. Tenho que dizer que me inspirei sem dúvida na fantástica Rita Moreno, aliás há certos gestos no musical que eu fiz questão de me inspirar, porque é isso que ela foi para mim, uma grande inspiração, e eu vi tantas vezes, por exemplo o “América”, com a minha filha que é uma fã, que acabei por absorver tanto os gestos que em certas alturas eu faço questão de os ir buscar e fazer tal e qual como ela o fez no filme. Ela é muito expressiva, fala muito com as mãos, e eu quis usar essa expressividade. No Musical propriamente dito, é muito engraçado a contracena. Há personagens que nos abanam mais, outras que nos desafiam mais. Há uns que nos fazem reagir mais, e outros que até somos nós a provocar, e acaba por ser um jogo muito interessante e muito variado, porque vamos tendo surpresas. Num espectáculo que dura há tanto tempo e que espero que dure muito mais, isso é muito importante, e uma mais-valia, para que as coisas não se tornem mecânicas”.

Depois de em 1991, Filipe La Féria, ter remodelado o Teatro Politeama, estreando em 1992 neste palco o grande musical "Maldita Cocaína" de sua autoria, a que se seguiu, entre outros, "Maria Callas" de Terrence McNally, "Rosa Tatuada" de Tennesse Williams e o grande sucesso que é "Amália", entre outros mais, “West Side Story” é sem dúvida um dos grandes sucessos deste encenador que já nos habituou à mais alta qualidade dos seus espectáculos.

Para mais informações acerca de “West Side Story”, poderá espreitar a página oficial do Teatro Politeama.

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Fonte: Jornal Dínamo / Teatro Politeama
Fotos
: Pedro Filipe / Direitos Reservados

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