Um Eléctrico Chamado Desejo (Crítica)
Vamos por partes.
A encenação opta por um cenário giratório que acaba por se revelar uma boa solução, dado o constante saltitar entre espaços. No entanto, sente-se que falta aqui e ali alguma dinâmica, há uma ou outra quebra de ritmos. Apesar disso, Diogo Infante consegue uma encenação eficaz, colorida pelo excelente trabalho de cenografia e figurinos (que isto representar é muito bonito mas é importante não esquecer o trabalho “invisível” que também existe). Quantos aos actores, a prestação é no geral bastante boa. Além disso, temos o bónus de ver algumas caras conhecidas a mostrar que merecem mais do que as novelas da TVI. É de destacar, em especial, a prestação de Lúcia Moniz, que constrói uma Stella DuBois sensível e ternurenta na dose certa, sem nunca cair na lamechice. Surpreendeu-me. Albano Jerónimo também se sai bem, em especial nas tiradas secas com que Stanley provoca Blanche, mas já não cabe na categoria “surpresa”. Por fim, o tão esperado regresso de Alexandra Lencastre. Devo confessar que demorei um bocadinho a habituar-me ao tom de voz da personagem, e que por vezes se notaram os anos passados na televisão. Apesar disso, não desiludiu, o que não é pouco tendo em conta a dificuldade que é representar, ou antes , “ser” Blanche DuBois.
Para o final, e como é de bom tom, guarda-se o melhor. E o melhor, aqui, é o texto. Tennessee Williams escreveu uma peça com um ritmo alucinante e personagens que impressionam pela sua profundidade. Nela começa gradualmente a formar-se uma espiral de tensão e violência que culmina num drama em que ninguém ganha e todos perdem. A vida é uma merda, que não haja ilusões sobre isso. Apesar de tudo, e como Blanche diz a certa altura, “Deus às vezes existe… tão depressa!”.
Se dúvidas houvesse, "Um Eléctrico Chamado Desejo" é a prova.
Fonte:Arte-Factos
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