Vestidos na água por uma boa causa
Foi preciso algum fôlego, pesos nos bolsos e vontade de alertar para os problemas do mar de Portugal. Catorze personalidades aceitaram ir ao fundo. Texto de Luís Silvestre e imagem de Pedro Oliveira e João Pimentel
O primeiro trabalho que Diana Pereira fez como modelo, quando em 1997 ganhou a final internacional do concurso Supermodel of the World, foi uma produção de vídeo subaquática. Por isso, a manequim de Coimbra fez tudo para conseguir encaixar a produção para a SÁBADO no seu horário sobrecarregado. “É como voltar ao início da minha carreira”, afirma. Duas horas e dezenas de mergulhos depois sai da piscina com o vestido de Nuno Baltazar encharcado e olha pelo visor da câmara para ver o resultado. “Nunca fiz fotos tão bonitas e originais”, sorri.
A top model portuguesa foi uma das 14 personalidades que mergulharam a convite da SÁBADO para uma produção que assinala o Dia do Mar, comemorado este mês no dia 16.
Marta Rebelo, deputada do PS, também aceitou o desafio. Para ela, o mar deve ser uma das prioridades nacionais. “Muitos políticos não têm a noção da dimensão do mar português”, diz. “Neste momento, temos uma das maiores zonas económicas exclusivas da União Europeia.” A área terrestre do País é de 92.083 quilómetros quadrados e a sua zona económica exclusiva (ZEE) atinge 1,7 milhões de quilómetros quadrados. O que os cientistas e a marinha portuguesa estão a tentar provar é que a plataforma continental, ou seja, o fundo marinho ligado a Portugal, Açores e Madeira é mais extensa, prolongando-se além das 200 milhas. Segundo o Direito Internacional, Portugal poderia reclamar essa “parcela de terreno subaquático”. E o “mar português” passaria a ter mais 1,3 milhões de quilómetros quadrados.
“Foi a primeira vez que mergulhei de fato e gravata”, confessa Fernando Negrão, deputado do PSD, depois de sair da piscina. “Mas é por uma boa causa”, acrescenta. O antigo candidato à Câmara de Lisboa diz ainda que Portugal deve também ter mais cuidado com os rios. E dá o exemplo da capital: “Cortaram a ligação da cidade às suas zonas ribeirinhas.” Negrão nasceu no interior de Angola e recorda-se do dia em que viu o mar pela primeira vez. “Tinha 5 anos e os meus pais levaram-me à baía de Luanda.” Desde então, nunca mais perdeu o gosto pelos oceanos e ainda hoje ocupa boa parte dos momentos de lazer a fazer bodyboard.
O advogado Garcia Pereira, líder do MRPP, também é um adepto dos desportos náuticos. Começou a praticar mergulho aos 11 anos. “Fazia caça submarina com um tridente de cana de bambu.” Depois apaixonou-se pela fotografia subaquática e agora já só “caça” imagens de peixes. Ainda recorda os ensinamentos do avô Manuel Gregório Pestana Júnior, ministro da I República, que lhe revelou a navegação pelas estrelas e os segredos do leme nas travessias que faziam entre a Madeira e Porto Santo. “Na altura não havia GPS. As correntes são fortes e é preciso navegar entre os boqueirões”, conta.
A actriz Leonor Seixas diz que a ligação ao mundo marítimo foi reforçada quando recebeu o convite para a novela Saber a Mar, da TVI, na qual interpretou a personagem de uma bióloga marinha que tratava de golfinhos. A experiência marcou-a: “Trabalhei um ano com esses animais. São muito inteligentes e cada um tem personalidades diferentes, uns são tímidos, outros extrovertidos e aventureiros.”
Lúcia Moniz diz que passou por uma experiência semelhante, esteve recentemente a treinar durante um mês com golfinhos. Aprendeu a suster a respiração para o mergulho em apneia, a fazer saltos e a ser transportada debaixo de água pelos animais. Enquanto espera pelo início da sessão de fotografias, mostra um vídeo que guarda no telemóvel: Lúcia é empurrada pelos pés num tanque transparente por um par de golfinhos e depois elevada até à superfície de forma a saltar para fora de água, num mergulho acrobático descrevendo um arco.
Pouco depois, está no fundo da piscina, com um microfone na mão, como se estivesse num concerto subaquático. Nas bancadas da piscina, a filha Júlia, de 4 anos, assiste ao trabalho. Foi ela a inspiração de Lúcia para uma das suas canções emblemáticas, Tatuada de Mar, escrita por Maria do Amparo, a avó. “É uma homenagem aos Açores, onde ela nasceu e onde procuro sempre refúgio para descansar e passar as férias”, conta Lúcia.
O mundo aquático também serviu de inspiração a outro êxito musical, a canção H2omem, dos Clã. A vocalista, Manuela Azevedo, conta como surgiu a ideia: “Pedimos ao músico brasileiro Arnaldo Antunes para fazer uma canção em parceria com ele.” Tudo foi tratado através de email e telefone. “Nem de propósito: o tema fala da importância da água nas nossas vidas e foi escrito com o oceano Atlântico pelo meio.”
O corpo humano é constituído por 70% de água, em média, tal como sublinha a escritora e bióloga Clara Pinto Correia, acrescentando que as células têm uma concentração de sal idêntica à dos oceanos primitivos. “Todos temos uma forte ligação à água, nomeadamente porque antes de nascermos passamos nove meses envolvidos pelo líquido amniótico.” Diz que esta ligação deveria servir de motivação à conservação da natureza e lamenta que parte da costa portuguesa tenha sido destruída pela construção civil desregrada e pela poluição.
O empresário e ex-campeão de surf Rodrigo Herédia concorda. “Fizeram-se demasiados esporões. As ondas também são um património nacional, e atraem turistas, nomeadamente os adeptos de surf.”
O actor Pedro Lima, ex-nadador olímpico, reforça essa ideia: “Devíamos apostar mais no ecoturismo e afastar as construções das praias.” Licenciado em Engenharia Mecânica, defende que Portugal poderia também tirar mais proveito da energia das marés para produzir electricidade mais limpa. “É uma das tecnologias com mais margem de progresso. O mar é uma das nossas maiores riquezas.”
O chef José Avillez acrescenta outros nomes a esta lista de tesouros marinhos: “Robalos, salmonetes, pargo, bruxas, lavagantes, santolas e até anémonas e algas, como a alface-do-mar. Os nossos pratos de peixe são dos melhores do mundo.”
O velejador olímpico Gustavo Lima está de acordo e sublinha que a costa portuguesa tem condições excelentes para os desportos náuticos. Nesta produção fotográfica procurou recriar a posição que usa na vela, quando está a competir. O mesmo desafio teve Simão Morgado, capitão da selecção olímpica portuguesa de natação – no seu caso, tinha de assumir a posição do estilo mariposa, mas com uma dificuldade adicional: deveria manter-se estático debaixo de água. “O meu nome é Simão Pedro, o apóstolo pescador, e sou do signo Peixes. Acho que só me faltam as guelras”, brinca.
A actriz Diana Chaves também já praticou natação de competição. O seu primeiro grande papel, em Morangos com Açúcar, foi o de uma nadadora-salvadora e o seu filme de animação favorito é A Pequena Sereia. Por isso, assim que viu uma écharpe de rede com pequenos discos translúcidos semelhantes a escamas, decidiu recriar para a SÁBADO a dança subaquática da célebre personagem da Disney.
Fonte: Sàbado
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