Entrevista à Lúcia realizada nos Açores!!
"Fala da entrada de novos artistas portugueses, o facto de cada vez mais bandas portuguesas cantarem em inglês e por ultimo os artistas que optam explorar sempre o mesmo tipo de musica em vez de evoluirem."
“Em casa” - Lúcia Moniz apresentou o seu último disco. O trabalho reflecte o ambiente intimista em que foi gravado, entre a sala de jantar em Lisboa e o Auditório do Ramo Grande, na Praia da Vitória, que acolheu o concerto da artista, no passado dia 4 do corrente. Com DI, a filha de Carlos Alberto Moniz e Maria do Amparo falou da carreira, de música e do novo disco – “Leva-me p´ra Casa"
Diário Insular – Este espectáculo na Praia da Vitória apresenta o seu último trabalho…
Lúcia Moniz –Exactamente, com o “Leva-me p’ra Casa”. A apresentação do álbum nos Açores, aqui no Auditório do Ramo Grande, tem uma especial razão porque grande parte do disco foi gravado aqui neste auditório. Então faz sentido virmos cá apresentá-lo. Este trabalho discográfico é talvez uma reflexão de um estado de espírito mais tranquilo, com uma sonoridade mais intimista, que naturalmente aconteceu. Eu, às vezes, costumo dizer que é um ponto de equilíbrio entre o primeiro e o segundo álbum. Não é tão pop como o primeiro, mas não é tão pesado como o segundo. Hoje [sábado, dia 4] é sem dúvida uma noite especial para mim, para todos nós, mas principalmente para mim que vou apresentar ao vivo, pela primeira vez, nos Açores. Sinto-me em casa, gravei-o aqui…
DI – Como é que surge a gravação deste trabalho aqui?
LM – A ideia de gravar nos Açores já vinha de há muito tempo. Desde o primeiro álbum que tinha vontade de gravar nos Açores, pelo sítio, por estar ao pé do mar, por variadas razões… poucos estúdios têm essas condições. E, depois, como eu vinha para cá ter a minha filha e foi uma altura em que eu precisava de repouso e tranquilidade, fizermos força para que se concretizasse esta vontade de gravar nos Açores. Depois, contactámos com as pessoas, que, felizmente, já conhecemos, e foi fácil conseguir este apoio da Câmara.
DI – Como disse, aqui, sente-se em casa… O título deste disco relaciona-se de alguma forma com este sentimento?
LM – Exactamente. Eu achei que fazia sentido o álbum chamar-se “Leva-me p’ra casa”, primeiro pela sonoridade, como já falei, mais intimista, mais caseira, digo eu, e também porque foi feito entre vários pontos, vários locais que eu considero casa, na casa onde eu vivi, algumas vozes foram gravadas na sala de jantar, outras coisas aqui, noutra minha casa que é os Açores… então achei piada utilizar o título de uma das canções do álbum, achei que reflectia bem todo o estado de espírito da sonoridade do disco.
DI – Neste momento está portanto a trabalhar na divulgação deste trabalho…
LM – Estou a começar agora a preencher a agenda. Felizmente já tenho confirmações nos Açores. É hoje à noite aqui no Ramo Grande, depois, tenho a Maré de Agosto, em Aanta Maria, e no Pico, em Agosto também.
DI – Em termos de percurso, a Lúcia tem experiências que vão desde o Festival da Canção, a parcerias com Nuno Bettencourt… Que momentos destacaria da sua carreira?
LM – O momento do Festival da Canção foi importante para esclarecer a minha cabeça ao nível do que é que eu queria seguir na vida, apesar de fazer outras coisas além da música. Claro que há uns momentos mais especiais que outros, mas eu tento absorver sempre de cada trabalho o mais positivo e o que me pode dar pernas para andar mais para a frente. Sem dúvida, o facto de trabalhar com Nuno foi importantíssimo, aprendi imenso, além de ter sido fantástico, divertidíssimo e uma honra também trabalhar com ele, isso fez com que eu desenvolvesse também outras coisas…
DI – É difícil para os jovens, para os novos projectos, entrar no mercado musical em Portugal?
LM – Não acho que seja nada fácil. Eu não sou um bom exemplo, tive sorte de encontrar as pessoas certas na altura certa. As duas coisas encontraram-se. Nesta vida, a sorte é sempre um factor muito importante. Mas não é fácil, são dadas muito poucas oportunidades, apesar de haver muita coisa de concursos para aqui e para acolá, mas são com outros interesses. Acho que encontrar um artista não é bem o conceito.
DI – E a dificuldade continua em manter-se na área…
LM – Pois é difícil…
DI – Qual poderá ser a chave…
LM – Não há, não sei qual é. Eu vou tentando fazer aquilo que gosto de fazer. Às vezes é bom, outras vezes é mau. Não sou muito de acordo em ir por modas, depois nunca nos identificamos com nada, ou nunca ninguém nos pode identificar com nada. Acho que é ser verdadeiro, não posso dizer que é a chave para o sucesso ou para conseguir manter uma carreira de sucesso, mas eu acho que o mais importante é sermos verdadeiros e fazer aquilo que sentimos e gostamos de fazer, que sentimos orgulho de fazer, assim conseguimos estar mais tempo vivos.
DI – E há muitos projectos de qualidade em Portugal…
LM - Há sim! Uns conhecidos, outros nem tanto, mas claro que sim. Há muitos artistas que admiro.
DI – Por exemplo…
LM – Por exemplo, gosto da Sara Tavares, que por acaso vai actuar também esta noite, com muita pena minha, eu queria ir vê-la, não vou poder ir… saiu um disco há pouco tempo do Manuel Paulo, que é fabuloso e, infelizmente, não sinto que a divulgação seja muito feita; gosto de Sérgio Godinho, gosto de João Afonso…
DI – E a língua portuguesa?
LM – A língua portuguesa… acho que tem havido muita crítica às bandas que cantam em inglês. A mim não me incomoda, para já, porque também canto coisas em inglês. Eu gosto e acho que é importante manter a língua portuguesa e cantar português em Portugal. Agora, também acho que não é caso para discriminar os que optam por cantar noutras línguas. Aqui, acima de tudo, o importante é dar espaço a autores portugueses, não a autorias em português. Não estou a dizer que não se deve dar, mas acho que o problema é dar espaço à música portuguesa, seja em francês, inglês, espanhol ou chinês… feita por portugueses, “made in” Portugal. Claro que acho bem que se escreva em português, que se mantenha a língua portuguesa, mas não sou fundamentalista…
DI – Que ambições ainda tem em termos profissionais?
LM – Eu acho que a minha ambição é sentir-me realizada com o que faço profissionalmente, que sejam longos anos. Quero estar contente com aquilo que faço.
Comentários
Talvez ela tenha razão quando fala em ter tido sorte ao ter encontrado as pessoas certas na altura certa mas, e sabemos que sorte é sempre sorte, nada disto hoje era possível se não fosse também e principalmente pelo talento, pelo "amor à camisola" independentemente das dificuldades, pela humildade e por aquele sorriso!!
A Lùcia está eternamente de Parabéns!!
A Lúcia de facto falou mesmo muito bem!